Capitulo 2 - Inesperado

- o que você acha se eu contratar a Jennifer?
- Ah?! - essa foi a minha reação quando minha mãe perguntou algo que para mim não havia muita importância, já que estava vendo meus seriados diarios. - Quem? - odiava quando minha mãe me interrompia, ainda mais quando estava comendo pipoca e estava naquela cena super importante que faz todo sentido.
- Você sabe, a Jennifer. A empregada.

Foi nessa hora que engasguei e comecei a ter uma crise de tosse.
- Nossa! O que deu em você?
- Ah.. nada - as palavras me fugiam e podia sentir meu rosto queimando de rubror - como assim, contratar ela?
- Não quero mais que ela venha só as quartas, você não é nada organizada e eu também aceitei uma promoção e vou viajar.
- Ah, não me encomodo dela vir todos os dias - eu estava super vermelha, mexia no cabelo que caia pelo meu ombro quando me toquei - Como assim você vai viajar?
- Vou fazer um treinamento para o novo cargo, então achei que seria bom não te deixar sozinha. Ainda não confio no Guilherme Gustavo.


Não devia era confiar nela foi o que passou pela minha cabeça.
- Mas e a outra? Não deveria voltar mês que vem?
- Ela quer mais tempo pros filhos, teve gemêos. Então só vai voltar quando eles desmamarem.
- Ela nem precisa voltar - falei por impulso, mas a tempo de ver a cara de interrogação de minha mãe - porque a Jessica limpa bem melhor.
- Jennifer.
- Tanto faz. - um alivio percorreu meu interior - Bem, vou estudar, tenho prova quinta - o que não deixava de ser verdade, mas o que ela não percebeu é que não esperei o seriado acabar para me levantar.


Chegando no meu quarto, enconstei a porta e passei a chave. Parecia uma criança ansiosa e correndo para perto da cama. Sei que pode parecer idiota, mas guardo coisas importantes em baixo da cama, dentro de uma caixa. E foi essa caixa que minha mão pegou. Dentro dela havia algo que havia se tornado muito importante para mim.


Por mais que não seja uma boa desenhista, naquela pedaço de papel estava algo que muito valia para mim. Logo após o incidente na quarta passada, vendo televisão rabisquei em meu caderno aquela pequena mulher, que até então não sabia o nome dela. Jennifer, tão lindo. E combinava perfeitamente com ela. Adorava o fato de ser mais alta que ela, adorava o fato de minhas mãos poderem se perder dentro daqueles cabelos negros e adorava ainda mais o fato de me perder em pensamentos naqueles olhos amendoados. E era o que tinha desenhado, um esboço do rosto dela.


E pensar que a veria dali a dois dias, ter que esperar ainda a terça para poder encontra-la mais uma vez. Desde nosso último encontro, os dias passaram se arrastando como se não quisessem acabar e eu implorando para que eles mudassem. Foi tão solitário, por mais que estivesse no colégio, com meus amigos, meu namorado.


Meus pensamentos só foram interrompidos pelo toque estridente do celular.
- alô?
- qual seu problema? não atende mais não?
- ah, oi Gui. - não sei como ainda tinha coragem de falar com ele, depois do que aconteceu dentro do elevador. Parecia que cada vez que nos encontravamos, nos beijamos era falso.
- só oi? você tá bem? vou prai agora mesmo!
- não não, estou estudando. tenho prova de bio-quimica na quinta - a verdade era que não suportava mais olhar na cara dele.
- mesmo? olha, não pode menti senão pintinho cai - se fosse assim já teria caido, rolava e se perdida nas ruas escuras da traição.
- é sim meu amor - tinha ansia de vomito só por falar isso - agora deixa eu ir senão, sabe como é minha mãe né?!
- ok. bons estudos. te amo. beijos.
- beijos - e desliguei antes que ele falasse outra coisa.


A verdade é que já tinha algum tempo desde que não sentia mais nada por ele, quem dirá amor. Passar meus dias com ele tem sido apenas para suprir minhas necessidades sexuais. Mesmo assim, começamos a nos beijar, tentamos algumas preliminares, ele me penetra, finjo que gosto e fim de papo, virou algo simplesmente carnal. Nada com sentimento ou emoção. Nada como o elevador. Aquele dia me fez abrir os olhos, como posso dizer que uma pessoa que eu nunca tinha reparado me despertou tanto interesse. E uma semana já está se passando, tenho quase certeza de que ela já não se lembra mais meu nome por mais que trabalhe na minha casa. Ela deve trabalhar em várias outras casas, em quantas outras já não devem ter dado em cima dela ou até mesmo ter tido algo com ela. A raiva foi crescendo dentro de mim a medida que esses pensamentos foram se formando. Não há nada que eu possa fazer, ela é uma mulher livre, que na verdade é casada. E com um filho. Esse é um fato que não pode ser apagado de minha mente. Então se ela vier passar dias direto aqui em casa, os dois terão que acompanha-la. Refletir sobre isso me faz querer que não venham. Porém, prefiro ficar ao lado dela, poder ve-la ao acordar, ve-la ao dormir, quem sabe conversar com ela, poder ter a chance de conviver um pouco mais com ela do que nunca mais ve-la.


O sol já havia se posto, quando resolvi ir comer algo, isso porque quando entrei no meu quarto ainda estava claro. Encontrei minha mãe com a cara dentro da geladeira revirando-a, com um sanduiche na boca e ela apenas apontou para um envelope em cima da mesa. Não sei dizer se foi um espanto bom ou ruim, mas escutar da sua mãe que ela vai viajar e no momento seguinte ela te entrega um envelope contendo no mínimo uns cinco mil pode ser um bom ou mal sinal.


- Você tem que dar mil para Jennifer - foi o que ela disse após terminar de mastigar - e o resto... bem.. não sei quanto deixar. E você vai ter contas para pagar?
- Contas? Pretende ficar quanto tempo fora?
- No mínimo, um mês.
- AHH?? COMO ASSIM?? - gritar não era minha intenção, apenas saiu.
- É um trabalho importante, posso ter a chance de virar vice-presidente depois disso.
- Você sempre diz isso - o que não era mentira, sempre que tinha uma oportunidade no trabalho ela sempre afirmava que poderia se tornar vice-presidente, mas ela dizia isso no mínimo a uns 12 anos, já que tenho 17 - Então, você vai... - não foi necessário terminar a frase, assim que ela fechou a porta da geladeira pude ver duas malas ao lado dela - Agora?! Você só pode estar brincando! Você vai agora?
- Eles me chamaram a um tempo, eu que achei que não ia dar em nada e não te contei.
- Claro, porque informar sua filha de que você vai viajar durante mais de um mês é algo que escapa nossa mente.


O interfone toca, e minha mãe me da aquela olhada de cachorro sem dono.
- Amo você querida, se cuide. O cartão de emergencias está no local de sempre, os vizinhhos sabem que vou sair...
- Pros vizinhos você conta, menos para sua filha!!
- Julia Fernadez Lopes!! Respeito comigo mocinha!!
- Que seja - e foi com essa frase que me retirei para meu quarto. Fui capaz de ouvir a porta batendo, mas ainda estava muito chateada por ser a última a saber. Era provavel que até meu pai soubesse, isso porque estão divorciados a 8 anos.


E foi com essa mentalidade que bati com a cabeça na cama, ainda chateada e bastante aborrecida por ela não ter me contato. Será que minha opinião não conta? Sempre a apoiei tanto e pensar que minha opinão foi ignorada realmente me magoa.
Foi quando acordei no susto, com a campainha tocando.
Olhei no relógio, havia perdido a hora, tudo bem que o primeiro tempo de terça-feira é política e é algo que não suporto.


Atenderia a porta, voltaria para me arrumar e sair para o colégio para enfrentar um logo e tedioso dia que seria esperando a tão aguardada quarta-feira. Isso era o que eu achava até abrir a porta.


Por mais que estivesse com sono, bocejando e coçando o olho a reconheci logo de cara. Com uma calça jeans, umas blusa justa tomara que cai vermelha que combinava muito bem com seus olhos amendoados. Ela olhava para mim, sorrindo com a boca e com os olhos.
- Bom dia. Julia certo?
- É-é.. - mal podia crer nos que os meus olhos viam, só poderia estar sonhando. Mas quando ela continuou falando percebi que não estava.
- Posso entrar?

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